A Estância Turística de Tupã pode ter atualmente entre 1.260 e 1.850 usuários exclusivamente de “crack”, a droga da morte, disseminada em forma de epidemia por todo o Brasil.
Uma situação tão crítica que levou o Governo Federal a lançar, no final do ano passado, um plano nacional de enfrentamento da “pedra maldita”, que segundo a presidente Dilma Roussef, trata-se de uma política ampla, sistemática, moderna e corajosa de enfrentamento das drogas.
Resultado de uma das principais promessas de campanha da então candidata Dilma, o plano promete investimentos da ordem de R$ 4 bilhões, abrangendo medidas para aumentar a oferta de tratamento de saúde aos usuários de droga, de prevenção, acolhimento, reinserção social e segurança pública, incluindo o enfrentamento do tráfico e das organizações criminosas.
Estimativas extraoficiais dão conta de que a região de Tupã soma atualmente entre 4 mil e 6,5 mil usuá-rios de “crack” (incluindo alguns usuários também de outras drogas, como a maconha). A projeção inclui Tupã, Bastos, Iacri, Parapuã, Rinópolis, Rancharia, Arco-Iris, Quintana, Herculândia, Quatá, João Ramalho, Queiroz, Osvaldo Cruz, Sagres, Salmourão e Borá, com uma população estimada em 202 mil habitantes. Para o cálculo em Tupã foi usada uma população referencial de 63 mil habitantes.
O titular da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) de Tupã, delegado Sandro Resina Simões, é cético ao avaliar esses números, mas reconhece que a situação é gravíssima. “A estatística é sempre uma estimativa. Na realidade, a gente não tem um dado concreto para avaliar ou para fixar a quantidade de usuários de drogas em geral e específicos em Tupã ou em qualquer outra cidade do mundo. Mas uma coisa que a gente não pode negar é que o problema realmente é muito grave, muito sério e a Polícia Civil, através da Dise, dentro das suas limitações, realmente tem feito seu papel de combate a esse tipo de droga”, resumiu.
Segundo Simões, a experiência do dia-a-dia mostra problemas familiares, distúrbios psicológicos, abuso de álcool, de outras drogas e também curiosidade e más companhias estão na relação das causas mais incidentes para “explicar” a entrada de novos usuários no rol das vítimas do “crack”, uma vez que seus efeitos devastadores têm sido insistentemente difundidos em todo o mundo. “Às vezes, para poder fazer parte de uma determinada turma (tribo) ou não ser excluído dela, a pessoa acaba entrando por esse caminho. E o que a gente vê é o efeito devastador do “crack”, no físico, na imagem da pessoa. Muito além disso, a droga não escolhe vítima; pode ser homem, mulher, rico, pobre, empregado, desempregado, realmente é um problema muito sério… Hoje a gente pode dizer que infelizmente o ‘crack’ está em todo lugar”, completou Simões.
Made in Peru
De acordo com Sandro Simões, a maior parte do “crack” comercializado e consumido na região é proveniente de alguns países da América do Sul, atualmente com ênfase para o Peru. “Com base nas apreensões que nós fazemos é sempre proveniente do Paraguai, Colômbia, Bolívia e até o Peru, que hoje tornou-se um dos grandes produtores de cocaína”.
Outra mudança expressiva, apontada pelo delegado no perfil dos usuários de “crack” em Tupã, é a presença feminina. “Até pouco tempo, apenas homens iam à procura, nas bocas de droga. Hoje chega a ocorrer 50% de presença feminina e pessoas de todas as origens que se possa imaginar”, avaliou.
Em Tupã, foi iniciada uma mobilização na Câmara, por meio da vereadora e delegada de Polícia, Telma Tulim, que está preocupada com outro aspecto do programa lançado em 2011 pela presidente Dilma. Segundo o plano, apenas municípios acima de 200 mil habitantes terão, nesta primeira fase, acesso a recursos federais para ajudar nas estruturas de combate à epidemia do “crack”.
Telma considera essa restrição injusta, uma vez que pelo menos 80% das cidades brasileiras têm população abaixo desse número. A vereadora quer que um manifesto seja levado diretamente ao Ministério da Saúde, pedindo que todas as cidades tenham acesso aos recursos do programa independente do tamanho da sua população, uma vez que o problema do “crack” é dramático em todos os municípios do País. “Eu fiz uma indicação e quero ver se, juntamente com o secretário de Saúde da nossa cidade (por que isso, antes de tudo é uma questão de saúde pública), vamos ao Ministério da Saúde para explicar que os pequenos municípios precisam também desses recursos e não podem ficar sozinhos na luta contra o problema”, explicou.
Telma Tulim destacou a chegada do “crack” na zona rural. “Trabalhadores rurais, motoristas profissionais (em substituição ao antigo rebite) acabam usando o ‘crack’ no trabalho”, exemplificou. A vereadora e delegada também espera mobilização de outras câmaras de vereadores de toda a região, com o mesmo objetivo. “Eu acredito que os vereadores, prefeitos e agentes políticos em geral devem ficar atentos a esta questão, porque se nós nos unirmos, teremos mais força para conseguir sensibilizar o governo federal”.
‘Crack’
“Crack” é uma droga, geralmente fumada, feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É uma forma impura de cocaína e não um sub-produto. O nome deriva do verbo “to crack”, que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
A fumaça produzida pela queima da pedra de “crack” chega ao sistema nervoso central em dez segundos, devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito dura de 3 a 10 minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, após o que produz muita depressão, o que leva o usuário a usar novamente para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. Não raro o usuário tem alucinações e paranoia (ilusões de perseguição).
Em relação ao seu preço, é uma droga mais barata que a cocaína.
Fonte:Jornal Diário de Tupã/BastosJá
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